Educação e Sociologia (Durkheim 2013)
DURKHEIM, Émile. 2013. Educação e Sociologia. (Trad. Stephania Matousek) Petrópolis: Vozes.
A educação, sua natureza e seu papel [1911]
Natureza e método da Pedagogia [1911]
Pedagogia e Sociologia [1902]
:::::::::: INTRODUÇÃO: A OBRA PEDAGÓGICA DE DURKHEIM
DURKHEIM INDIVIDUALISTA
Se existiu um homem que foi um indivíduo, uma pessoa, com tudo o que o termo implica de originalidade criadora e resistência aos arrebatamentos coletivos, este homem foi Durkheim. E a sua doutrina moral corresponde tanto ao seu próprio caráter que não seria paradoxal dar a esta doutrina o nome de individualismo. Seu primeiro livro, A divisão do trabalho social, propõe toda uma filosofia da história na qual a gênese, a diferenciação e a libertação do indivíduo surgem como o traço mais marcante do progresso da civilização; a exaltação da pessoa humana, como o seu resultado atual. E esta filosofia da história culmina na seguinte regra moral: destaque-se, seja uma pessoa. Como, então, tal doutrina poderia enxergar na educação um processo qualquer de despersonalização? Se criar uma pessoa constitui atualmente o objetivo da educação, e se educar consiste em socializar, vamos, portanto, concluir que, segundo Durkheim, é possível individualizar socializando. Este é, no fundo, o seu pensamento. (Fauconnet 2013:15)
A ESSENCIA DO PENSAMENTO DE DURKHEIM ESTÁ EM SUA ANÁLISE DA EDUCAÇÃO
E é preciso dizer aos sociólogos que é na análise da educação de Durkheim que eles perceberão melhor a essência do seu pensamento sobre as relações da sociedade e do indivíduo e o papel dos indivíduos de elite no progresso social. (Fauconnet 2013:16)
SOCIAL x INDIVIDUAL/PSICOLÓGICO
(Fauconnet 2013:18)
SOCIOLOGIA EDUCACIONAL (sociologia “da”, “na”, ou “a serviço da” escola)
Há […], de um lado, uma orientação mais ou menos incerta no sentido do estudo sociológico da educação, tal como Durkheim a concebe, e, do outro lado, um sistema de Educação que se preocupa mais especificamente em preparar o homem para a vida social, formar o cidadão: Staatsbürgenliche Erziehung [educação cívica], como Kerchensteiner o chama. A ideia americana de Educational Sociology se aplica de maneira confusa ao estudo sociológico da educação e, ao mesmo tempo, à introdução da Sociologia nas salas de aula, como matéria de ensino. A Ciência da Educação, definida por Durkheim, é sociológica, em uma acepção bem mais clara do termo. (Fauconnet 2013:19)
FATOS SOCIAIS EDUCACIONAIS
Nada pode ser mais contrário aos hábitos do sociólogo do que dizer de entrada: “vejam como se deve educar as crianças”, fazendo tábula rasa da educação que lhes é realmente oferecida. Estruturas escolares, programas de ensino, métodos, traduções, hábitos, tendências, ideias e ideais dos professores são fatos, cujas origens e evoluções a Pedagogia busca descobrir, longe de pretender mudar estes fatos. (Fauconnet 2013:20)
PRAGMATISMO PSICOSSOCIOLÓGICO
Saber para prever e prover, já dizia Augusto Comte, da ciência positiva. De fato, quanto mais bem conhecemos a natureza das coisas, mais chances temos de utilizá-la com eficácia. O educador é obrigado, por exemplo, a governar a atenção da criança. Ninguém pode negar que ele a governará melhor se conhecer a natureza dela mais exatamente. (Fauconnet 2013:20-1)
PRAXEOLOGIA DURKHEIMIANA
As instituições não são nem absolutamente flexíveis e nem absolutamente refratárias a toda modificação deliberada. Adaptá-las com prudência aos seus papéis respectivos, adaptá-las umas às outras e cada uma delas à civilização na qual se incorporam constitui um belo campo de ação para uma política racional e, quando se trata de instituições educativas, para uma pedagogia racional, ou seja, uma pedagogia que não seja nem conservadora e nem revolucionária, eficaz dentro dos limites em que a ação deliberada do homem pode ser eficaz. (Fauconnet 2013:21)
[A educação é uma] matéria resistente que não se deixa manipular arbitrariamente: meio social, instituições, hábitos, tradições e tendências coletivas. (Fauconnet 2013:)
Durkheim dava a maior importância, não somente enquanto intelectual, mas também como cidadão, a esta concepção racionalista da ação. Embora fosse hostil à agitação reformista, que perturba sem melhorar nada, sobretudo nas reformas negativas, que destroem sem propor algo novo, ele carregava a ação nas veias. No entanto, para que a ação fosse fértil, ele sustentava que ela deveria envolver aquilo que é possível, limitado, definido, determinado nas condições sociais em que ela se exercer. (Fauconnet 2013:22)
A VERDADE SOCIAL DA RELIGIÃO
[A] religião exprime, do seu modo, através de uma linguagem simbólica, coisas verdadeiras. Não se deve perder estas verdades junto com os símbolos que são rejeitados; é preciso reencontrá-las, projetando-as no plano do pensamento laico. (Fauconnet 2013:23)
ESPÍRITO DE DISCIPLINA DOS FRANCESES
O espírito de disciplina é ao mesmo tempo a ciência da e a simpatia pela regularidade e limitação dos desejos. Ele implica o respeito da regra, que obriga o indivíduo a inibir impulsos e se esforçar. Por que a vida social exige regularidade, limitação e esforço? Além disso, como o indivíduo consegue, afinal, aceitar estas penosas exigências, condições para a sua própria felicidade? Responder a estas perguntas equivale a dizer qual é a função da disciplina. Como a sociedade pode estar apta a impor a disciplina e, principalmente, despertar no indivíduo o sentimento do respeito devido à autoridade de um imperativo categórico, que surge como transcendente? Responder a esta pergunta equivale a refletir sobre a natureza da disciplina e seu fundamento racional. Enfim, por que a regra pode e deve ser concebida como independente de qualquer simbolismo religioso e mesmo metafísico? O que esta laicização da disciplina modifica no próprio conteúdo da ideia de disciplina, naquilo que ela exige e permite? Aqui, associamos a natureza e função da disciplina, não mais às condições da civilização em geral, mas àquelas específicas da existência da civilização em que vivemos. E buscamos saber se o espírito de disciplina que pertence a nós, franceses, é realmente tudo aquilo que ele deve ser, se não está patologicamente enfraquecido, e como a educação, respeitando os seus caracteres próprios, pode melhorar a nossa moralidade nacional. (Fauconnet 2013:25-6)
ENTRE A COERÇÃO E A SEDUÇÃO
[J]á quiseram afirmar que, segundo ele [Durkheim], a coerção era a única ação que a sociedade exercia sobre o indivíduo. Sua verdadeira doutrina é infinitamente mais compreensível, e talvez não haja nenhuma filosofia moral que se assemelhe a ela neste ponto. Ele demonstrou muito bem, por exemplo, que as forças morais, que compelem e mesmo agridem a natureza animal do homem, também exercem neste último uma atração, uma sedução. É a estes dois aspectos do fato moral que ambas as noções de dever e de bem respondem. (Fauconnet 2013:27)
A CIÊNCIA LIBERTA (evangelho praxeológico)
A autonomia é a atitude de uma consciência que aceita as regras porque reconhece que elas sejam racionalmente fundamentadas. Ela supõe a aplicação livre, porém metódica, da inteligência no exame das regras já prontas que a criança recebe primeiro da sociedade na qual ela está crescendo. Longe de aceitá-las passivamente, a criança deve pouco a pouco aprender a animá-las, conciliá-las, eliminar ou reformar seus elementos obsoletos para adaptá-los às condições de existência cambiantes da sociedade da qual ela acba se tornando um membro ativo. Durkheim diz que é a ciência que confere autonomia. Somente ela ensina a reconhecer o que é fundamentado na natureza das coisas – natureza física, mas também moral. Somente ela ensina a reconhecer o que é inelutável, modificável, normal, quais são afinal os limites da ação eficaz para melhorar a natureza, tanto física quanto moral. Deste ponto de vista, todo ensino tem um destino moral, desde o ensino das ciências cosmológicas até (e sobretudo) o ensino do próprio homem, pela História e Sociologia. (Fauconnet 2013:28)
FORMA e CONTEÚDO
Junto com tantos grandes pedagogos, Durkheim recomenda […], o que chamamos, através de um termo bárbaro, de cultura formal: formar o espírito, e não preenchê-lo. […] A memória, a atenção e a faculdade de associação são disposições congênitas na criança, que se desenvolvem quando exercitadas e somente no contexto da experiência individual, seja qual for o objeto ao qual estas faculdades se aplicarem. As idéias diretrizes elaboradas pela nossa civilização são, pelo contrário, ideias coletivas que devem ser transmitidas à criança, pois ela não saberia elaborá-las sozinha. Ninguém reinventa a ciência com a sua experiência própria, já que ela é social, e não individual, e já que ela se aprende. Sem dúvida, ela não é transvasada de uma mente para outra: é o próprio vaso, ou seja, a inteligência, que se deve modelar pela e a partir da ciência. Assim, embora as ideias diretrizes sejam formais, não é possível transmiti-las vazias. (Fauconnet 2013:31-2)
A NOÇÃO DE TEMPO HISTÓRICO e a EFICÁCIA DO ENSINO DE HISTÓRIA
A história é o desenvolvimento temporal de sociedades humanas. Mas este tempo ultrapassa infinitamente os tempos que o indivíduo conhece, os tempos que ele vivencia diretamente. A história não pode fazer sentido para uma mente que não possua uma certa representação deste tempo histórico; um bom intelecto é, notavelmente, um intelecto que a possua. Ora, sozinha, a criança não é capaz de construir esta representação, cujos elementos não lhe são fornecidos nem pela sensação e nem pela memória individual. Portanto, é preciso ajudá-la a construí-la. Na verdade, esta é uma das funções que o ensino de História desempenha. Mas ele a desempenha, pode-se dizer, involuntariamente. […] Um dos resultados essenciais do ensino da História é, portanto, mais ou menos obtido, de fato, sem ser claramente percebido nem intencionado. Ora, a brevidade da Educação Primária exige que se busque alcançar os objetivos sem rodeios, se esta Educação quiser ser plenamente eficaz. (Fauconnet 2013:32-4)
:::::::::: A EDUCAÇÃO, SUA NATUREZA E SEU PAPEL
DEFINIÇÃO INTERACIONISTA DE EDUCAÇÃO
Em função de seus procedimentos e resultados, a ação das coisas sobre os homens difere muito da que provém dos próprios homens; e a ação entre homens pertencentes à mesma faixa etária difere da que os adultos exercem sobre os mais jovens. O que nos interessa aqui é somente esta última, à qual, por conseguinte, convém reservar a palavra educação. (Durkheim 2013:43)
Para que haja educação é preciso que uma geração de adultos e uma de jovens se encontrem face a face e que uma ação seja exercida pelos primeiros sobre os segundos. Resta-nos definir a natureza desta ação. (Durkheim 2013:50)
A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a vida social. Ela tem como objetivo suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais exigidos tanto pelo conjunto da sociedade política quanto pelo meio específico ao qual ela está destinada em particular. (Durkheim 2013:53-4)
[A] educação consiste em uma socialização metódica das novas gerações. (Durkheim 2013:54)
DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL e A ESPECIALIZAÇÃO EDUCACIONAL
Não podemos nem devemos todos nos devotar ao mesmo gênero de vida; dependendo das nossas aptidões, temos funções diferentes a desempenhar, e é preciso estar em harmonia com aquela que nos incumbe. Nem todos nós fomos feitos para refletir; são precisos homens de sensação e ação. […] Sem dúvida, essa especialização não exclui uma certa base comum e, por conseguinte, uma certa oscilação tanto das funções orgânicas quanto das psíquicas (Durkheim 2013:44-5)
[C]ada profissão constitui um meio sui generis que demanda aptidões e conhecimentos específicos, um meio no qual predominam certas ideias, usos e maneiras de ver as coisas; e, já que a criança deve estar preparada com vistas à função que será levada a cumprir, a educação, a partir de determinada idade, não pode mais continuar a mesma para todos os sujeitos aos quais ela se aplicar. (Durkheim 2013:51)
Para encontrar uma educação absolutamente homogênea e igualitária, é preciso voltar no tempo até as sociedades pré-históricas, no meio das quais não existia nenhuma diferenciação; e ainda assim estes tipos de sociedades representam apenas um momento lógico na história da humanidade. (Durkheim 2013:51)
PARA ALÉM DO ORGANISMO
Esperamos da vida outra coisa além do funcionamento mais ou menos normal de nossos órgãos. (Durkheim 2013:45)
O FATO SOCIAL EDUCACIONAL
De que adianta imaginar uma educação que seria fatal para a sociedade que a colocasse em prática? (Durkheim 2013:47)
[U]m conjunto de práticas e instituições que se organizaram lentamente ao longo do tempo, que são solidárias com todas as outras instituições sociais, exprimindo-as, e que, por conseguinte, bem como a própria estrutura da sociedade, não podem ser modificadas à vontade. (Durkheim 2013:47)
[Sistemas educacionais são] realidades existentes, as quais ele [o reformista social] não pode nem criar, nem destruir, nem transformar à vontade. Ele só pode influenciá-las na medida em que aprender a conhecê-las e souber qual é a sua natureza e as condições das quais elas dependem; e só conseguirá saber tudo isto se seguir o seu exemplo, se começar a observá-las, como o físico o faz com a matéria bruta, e o biologista, com os seres vivos. (Durkheim 2013:49)
O IMPERATIVO DA NORMALIDADE
não podemos educar nossos filhos como quisermos, ignorar o peso da tradição e hábitos herdados. (Durkheim 2013:48)
MÉTODO DURKHEIMIANO PARA DEFINIR EDUCAÇÃO (1-estudo histórico dos sistemas educativos que já existiram; 2- análise comparativa de suas relações)
(Durkheim 2013:49)
MORALIDADE E EDUCAÇÃO
Não há povo em que não exista certo número de ideias, sentimentos e práticas que a educação deve inculcar em todas as crianças sem distinção, seja qual for a categoria social à qual elas pertencem. (Durkheim 2013:51)
O IDEAL (a função) DA EDUCAÇÃO (organizar os órgãos)
[A função da educação ] é suscitar na criança: 1o) um certo número de estados físicos e mentais que a sociedade à qual ela pertence exige de todos os seus membros; 2o) certos estados físicos e mentais que o grupo social específico (casta, classe, família, profissão) também considera como obrigatórios em todos aqueles que o formam. Assim, é o conjunto da sociedade e cada meio social específico que determinam este ideal que a educação realiza. (Durkheim 2013:52-3)
[P]ara a sociedade, a educação é apenas o modo pelo qual ela prepara no coração das crianças as condições essenciais de sua própria existência. (Durkheim 2013:53)
O SER INDIVIDUAL, O SER SOCIAL E A EDUCAÇÃO
Em cada um de nós, pode-se dizer, existem dois seres que, embora sejam inseparáveis – a não ser por abstração -, não deixam de ser distintos. Um é composto de todos os estados mentais que dizem respeito apenas a nós mesmos e aos acontecimentos de nossa vida pessoal: é o que se poderia chamar de ser individual. O outro é um sistema de ideias, sentimentos e hábitos que exprimem em nós não a nossa personalidade, mas sim o grupo ou os grupos diferentes dos quais fazemos parte; tais como as crenças religiosas, as crenças e práticas morais, as tradições nacionais ou profissionais e as opiniões coletivas de todo tipo. Este conjunto forma o ser social. Constituir este ser em cada um de nós é o objetivo da educação. (Durkheim 2013:54)
O LADO NEGRO DA PEDAGOGIA DURKHEIMIANA (criança como tabula rasa egoísta e associal, hipnotizada pela educação)
Espontaneamente, o homem não tinha tendência a se submeter a uma autoridade política, respeitar uma disciplina moral, dedicar-se e sacrificar-se. A nossa natureza congênita não apresentava nada que nos predispusesse necessariamente a nos tornarmos servidores de divindades, emblemas simbólicos da sociedade, a lhes prestarmos culto ou a nos privarmos para honrá-las. Foi a própria sociedade que, à medida que ia se formando e se consolidando, tirou do seu seio estas grandes forças morais, diante das quais o homem sentiu a sua inferioridade. Ora, com exceção de tendências vagas e incertas que podem ser atribuídas à hereditariedade, ao entrar na vida, a criança traz apenas a sua natureza de indivíduo. Portanto, a cada nova geração, a sociedade se encontra em presença de uma tábula quase rasa sobre a qual ela deve construir novamente. É preciso que, pelos meios mais rápidos, ela substitua o ser egoísta e associal que acaba de nascer por um outro capaz de levar uma vida moral e social. Esta é a obra da educação, cuja grandeza podemos reconhecer. (Durkheim 2013:54-5)
AÇÃO EDUCATIVA = SUGESTÃO HIPNÓTICA (Durkheim 2013:68-9)
CRIANÇA ANTISSOCIAL É DOMINADA PELA AUTORIDADE DO DEVER MORAL (Durkheim 2013:71)
A criança deve, portanto, estar acostumada a reconhecer a autoridade na palavra do educador e a respeitar a sua superioridade. Esta é a condição para que mais tarde ela a reencontre em sua consciência e acate o que ela prescrever. (Durkheim 2013:73)
A EDUCAÇÃO ESTÁ PARA O HUMANO COMO A HEREDITARIEDADE ESTÁ PARA O ANIMAL
Esta virtude criadora [da educação] é, aliás, um privilégio específico da educação humana. A que os animais recebem é completamente diferente, se é que podemos chamar de educação o treinamento progressivo ao qual eles são submetidos por seus pais. Este treinamento bem pode acelerar o desenvolvimento de certos instintos que estão latentes no animal, mas não o inicia a um anova vida. Ele facilita o movimento das funções naturais, mas não cria nada. Instruído pela mãe, o filhote saberá voar ou fazer o ninho de forma mais rápida, mas não aprenderá quase ada a não se através de sua experiência individual. É que os animais ou vivem fora de todo estado social ou forma sociedades bastante simples, que funcionam a partir de mecanismos instintivos que cdea indivíduo carrega consigo perfeitamente constituídos desde o nascimento. Portanto, a educação não pode acrescentar nada de essencial à natureza, visto que esta última é inteiramente suficiente, tanto para a vida do grupo quanto para a do indivíduo. No homem, ao contrário, as aptidões de todo tipo que a vida social supõe são complexas demais para poderem, de certo modo, encarnar-se nos tecidos e materializar-se sob a forma de predisposições orgânicas. Por conseguinte, elas não podem ser transmitidas de uma geração para a outra através da hereditariedade. É a educação que garante a transmissão. (Durkheim 2013:55-6)
[S]e tudo o que a sociedade deu ao homem lhe fosse retirado, ele seria reduzido à categoria do animal (Durkheim 2013:60)
O HERDADO E O ADQUIRIDO (tecidos orgânicos…)(Durkheim 2013:66-7)
MITO PRAGMÁTICO DE SOCIOGÊNESE DA CIÊNCIA
Como já dizia Rousseau, para satisfazer às necessidades vitais, a sensação, a experiência e o instinto podiam bastar para o homem assim como para o animal. Se o homem não tivesse sentido outras necessidades além daquelas, bastante simples, cujas raízes provêm de sua constituição individual, ele não teria corrido atrás da ciência; ainda mais que ela não foi obtida sem laboriosos e dolorosos esforços. Ele só sentiu a sede do saber quando a sociedade a provocou nele, e a sociedade só a provocou quando ela mesma sentiu esta necessidade. Isto aconteceu quando a vida social, sob todas as suas formas, tornou-se complexa demais para poder funcionar de outra forma a não ser com base na reflexão, ou seja, no pensamento iluminado pela ciência. A cultura científica se tornou então indispensável, e é por isto que a sociedade a exige de seus membros e a impõe como um dever. Entretanto, em suas origens, enquanto a organização social for bastante simples, muito pouco variada e sempre fiel a si mesma, a cega tradição bastará, assim como o instinto para o animal. Neste contexto, o raciocínio e o livre pensamento são inúteis e até perigosos, já que necessariamente ameaçariam a tradição. é por isto que eles são proscritos. (Durkheim 2013:57)
É a ciência que elabora as noções cardeais que dirigem o nosso pensamento: noções de causa, leis, espaço, número, corpos, vida, consciência, sociedade, etc. Todas estas ideias fundamentais estão em constante evolução: é que elas são o resumo e o resultado de todo o resultado científico, e não o seu ponto de partida (Durkheim 2013:)
[A] ciência é obra coletiva, visto que supõe uma vasta cooperação entre todos os sábios não somente de um mesmo período, como também de todas as épocas sucessivas da história. – Antes de as ciências estarem constituídas, a religião desempenhava o mesmo papel, pois toda mitologia consiste em uma representação, já bastante elaborada, do homem e do universo. Aliás, a ciência é herdeira da religião, que, por sua vez, é uma instituição social. (Durkheim 2013:59-60)
A MORAL SOCIAL-PEDAGÓGICA DE DURKHEIM
[O] novo ser que a ação coletiva edifica em cada um de nós através da educação representa o que há de melhor em nós, ou seja, o que há de propriamente humano em nós. De fato, o homem só é homem porque vive em sociedade. (Durkheim 2013:58)
Antes de tudo, se existe hoje um fato historicamente estabelecido, é o fat de que a moral cultiva estreitas relações com a natureza das sociedades, visto que, como já mostramos antes, ela muda quando as sociedades mudam. Isto significa, portanto, que a moral resulta da vida em comum. De fato, e a sociedade que nos faz sair de nós mesmos, que nos obriga a considerar interesses diferentes dos nossos, que nos ensinou a dominar os nossos ímpetos e instintos, a sujeitá-los a leis, a nos reprimir, privar, sacrificar, subordinar os nossos fins pessoais a fins mais elevados. Foi a sociedade que instituiu nas nossas consciências todo o sistema de representação que alimenta em nós a ideia e o sentimento da regra e da disciplina, tanto internas quanto externas. Foi assim que adquirimos o poder de resistir a nós mesmos, ou seja, o domínio sobre as nossas vontades, um dos traços marcantes da fisionomia humana, desenvolvido à medida que nos tornamos mais plenamente humanos. (Durkheim 2013:59)
Ao querer a sociedade, o indivíduo quer a si mesmo. O objetivo e o efeito da ação que ela exerce sobre ele, principalmente através da educação, não são nem um pouco reprimi-lo, diminuí-lo, desnaturá-lo, mas sim amplificá-lo e transformá-lo em um ser verdadeiramente humano. Sem dúvida, ele só pode crescer desta forma fazendo esforço. Mas, justamente, o poder de fazer esforço de modo voluntário é uma das características mais essenciais do homem. (Durkheim 2013:61)
[J]á há desde agora, na base da nossa civilização, um certo número de princípios que, implícita ou explicitamente, são comuns a todos, princípios que, em todo caso, muito poucos ousam negar de forma aberta e frontal: respeito da razão, da ciência e das ideias e sentimentos que sustentam a moral democrática. O papel do Estado consiste em identificar estes princípios essenciais, fazer com que eles sejam ensinados nas escolas, garantir que em lugar algum os adultos deixem as crianças ignorá-los e certificar-se de que por toda parte se fale deles com o respeito que lhes é devido. Sendo assim, pode-se exercer uma ação que talvez será tanto mais eficaz quanto menos agressiva e violenta for e quanto melhor se mantiver dentro de limites sensatos. (Durkheim 2013:64-5)
LINGUAGEM como FATO SOCIAL
(Durkheim 2013:60)
O ESTADO E A EDUCAÇÃO
Uma vez que a educação é uma função essencialmente social, o Estado não pode se desinteressar dela. Pelo contrário, tudo o que é educação deve ser, em certa medida, submetido à sua ação. […] Não é nem mesmo admissível que a função de educador seja desempenhada por alguém que não apresente garantias específicas que somente o Estado pode julgar. Sem dúvida, os limites dentro dos quais a sua intervenção deve se manter são difíceis de se determinar de modo definitivo, mas o princípio de intervenção não pode ser contestado. Não há escola que possa reivindicar o direito de dar, com toda liberdade, uma Educação antissocial. (Durkheim 2013:63)
INSTINTO
[O] instinto é um sistema de movimentos determinados que são sempre idênticos e que, uma vez estimulados pela sensação, encadeiam-se automaticamente uns aos outros até chegarem ao seu término natural, sem que a reflexão possa intervir em algum momento. Ora, os movimentos que executamos quando nossa vida está em perigo [como no suposto “instinto de sobrevivência”] não apresentam absolutamente esta determinação e invariabilidade automática. Eles mudam de acordo com as situações, e nós os adaptamos às circunstâncias. […] São forças que incitam em determinada direção, mas os meios pelos quais estas forças se concretizam mudam de um indivíduo para o outro e de uma ocasião para a outra. Existe, portanto, uma grande margem de manobra para as tentativas, adaptações pessoais e, por conseguinte, para a ação de fatores que só podem exercer influência depois do nascimento. Ora, a educação é um destes fatores. (Durkheim 2013:66)
O PAPEL DA AUTORIDADE NA EDUCAÇÃO (pais)
[A] educação deve ser, em sua essência, uma questão de autoridade. (Durkheim 2013:70)
A liberdade é filha da autoridade bem aplicada, pois ser livre não significa fazer o que bem entender, mas sim ter autocontrole e saber agir guiado pela razão e cumprir o seu dever. (Durkheim 2013:73)
:::::::::: NATUREZA E MÉTODO DA PEDAGOGIA
DEFINIÇÃO DE EDUCAÇÃO (fato social)
A educação é a ação exercida nas crianças pelos pais e professores. Esta ação é constante e geral. Não há nenhum período na vida social e nem mesmo, por assim dizer, nenhum momento do dia em que as novas gerações não estejam em contato com os mais velhos e, por conseguinte, não recebam a influência educadora destes últimos. Isto porque esta influência não é sentida somente nos instantes bastante curtos em que os pais ou professores compartilham, de modo consciente e através de um ensino propriamente dito, os resultados de suas experiências com aqueles que nasceram depois deles. Existe uma educação inconsciente e incessante. Através do nosso exemplo, das palavras que dizemos e dos atos que executamos, fabricamos a alma dos nossos filhos de modo constante. (Durkheim 2013:75)
[A] educação vigente em determinada sociedade e considerada em determinado momento de sua evolução é um conjunto de práticas, maneiras de agir e costumes que constituem fatos perfeitamente definidos e tão reais quanto os outros fatos sociais. (Durkheim 2013:78)
DEFINIÇÃO DE PEDAGOGIA
A Pedagogia […] consiste não em ação, mas sim em teorias. Essas teorias explicitam as maneiras de conceber a educação, e não de praticá-la. Elas se distinguem às vezes das práticas vigentes a ponto de se oporem a elas. (Durkheim 2013:75)
Existem povos que não tiveram uma Pedagogia propriamente dita; aliás, esta última surge apenas em uma época relativamente adiantada da história. […] Isto ocorreu porque o homem não reflete o tempo inteiro, mas somente quando é necessário, e porque as condições da reflexão não estão dadas em todo lugar e momento. (Durkheim 2013:76)
EDUCAÇÃO(prática-arte) x PEDAGOGIA(teoria)
Portanto, a educação constitui apenas a modalidade prática da Pedagogia, que, por sua vez, consiste em uma certa maneira de refletir sobre as questões relativas à educação. (Durkheim 2013:75-6)
[Podem existir ótimos professores que são péssimos pedagogos e vice-versa] (Durkheim 2013:84)
AS 3 CARACTERÍSTICAS DA CIÊNCIA (trata de fatos: reais (o moderno); categoricamente homogêneos (o advogado); e desinteressados (o ingênuo))
(Durkheim 2013:77)
A EDUCAÇÃO COMO OBJETO CIENTÍFICO (resiste à vontade individual e é geral)
Não existe homem que possa fazer com que uma sociedade tenha, em determinado momento, u sistema de educação diferente daquele que está contido em sua estrutura, bem como é impossível que um organismo vivo tenha órgãos e funções diferentes daqueles que estão encerrados em sua constituição. […] [B]asta tomar consciência da força imperativa com a qual estas práticas se impõem a nós. Não adianta acreditar que podemos educar os nossos filhos como quisermos. Somos forçados a seguir as regras reinantes no meio social em que vivemos. […] Além disso, as práticas educativas […] têm em comum um aspecto essencial: todas elas resultam da ação exercida por uma geração sobre a geração seguinte no intuito de adaptar a mesma ao meio social no qual está destinada a viver. […] Consequentemente, elas constituem fatos de uma mesma espécie, pertencendo a uma mesma categoria lógica. Elas podem então servir de objeto a uma única e mesma ciência: a ciência da educação. (Durkheim 2013:78-9)
MITO DE ORIGEM DA CIÊNCIA A PARTIR DA RELIGIÃO
(Durkheim 2013:80-1)
A ESTATÍSTICA COMO CONDIÇÃO DA FISIOLOGIA ESCOLAR
Em toda escola há uma disciplina e um sistema de punições e recompensas. O quão interessante seria saber, não somente a partir de impressões empíricas, mas também de observações metódicas, de que modo este sistema funciona nas diferentes escolas de uma mesma localidade, nas diferentes regiões, nos diferentes momentos do ano, nos diferentes momentos do dia; quais são os delitos escolares mais frequentes; como sua proporção varia no conjunto do território ou conforme os países; como ela depende da idade da criança, da sua situação familiar, etc.! Todas as questões que se colocam com relação aos delitos do adulto podem ser colocadas aqui de forma igualmente útil. Assim como existe uma criminologia do homem feito, existe uma da criança. E a disciplina não é a única instituição educativa que poderia ser estudada segundo este método. Não há método pedagógico cujos efeitos não possam ser medidos da mesma maneira supondo evidentemente que tenha sido instaurado o instrumento necessário para tal estudo: uma boa estatística. (Durkheim 2013:82-3)
INFELIZMENTE, NA PRÁTICA, A PEDAGOGIA SE INTERESSA MAIS PELO QUE “DEVE SER” DO QUE PELO QUE “É” (Rabelais, Montaigne, Rousseau, Pestalozzi)
(Durkheim 2013:83)
“ARTE” COMO SABER PRÁTICO
(Durkheim 2013:85)
PEDAGOGIA COMO “TEORIA PRÁTICA” (entre a prática e a teoria, programas de ação)
(Durkheim 2013:86)
Ora, o que é a Pedagogia senão a reflexão aplicada da maneira mais metódica possível às coisas relativas à educação no intuito de regular o seu desenvolvimento? (Durkheim 2013:)
COMPARAÇÃO: QUÍMICA PURA : QUÍMICA APLICADA :: CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO : PEDAGOGIA
(Durkheim 2013:86)
CIÊNCIAS AINDA EM FORMAÇÃO (Pedagogia, Sociologia, Psicologia)
(Durkheim 2013:85-6)
PRAGMATISMO DURKHEIMIANO A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO
Só nos resta, portanto, ter coragem para começar a trabalhar, buscar as mudanças que se impõem e realizá-las. […] Portanto, não temos mais nada a fazer senão agir da melhor forma possível, juntando o máximo de fatos instrutivos e interpretando-os com o máximo de método para reduzir ao mínimo as chances de erro. Este é o papel do pedagogo. […] Sem dúvida, agindo nestas condições, corre-se riscos. Mas a ação nunca se dá sem riscos; por mais avançada que seja, a ciência não pode eliminá-los. Tudo o que podemos fazer é empregar toda a nossa ciência, por mais imperfeita que ela seja, e toda a nossa consciência para prevenir estes riscos na medida das nossas capacidades. E é justamente este o papel da Pedagogia. (Durkheim 2013:88-9)
INTELIGÊNCIA(reflexão, renascimento) x HÁBITO(tradição, repetição mecânica, idade média)
(Durkheim 2013:89-90)
UMA CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO DEPENDE DE: 1- uma história das instituições e práticas escolares (propedêutica); 2- história das teorias pedagógicas; 3- psicologia infantil (os meios da educação)
(Durkheim 2013:91-6)
TEORIA DA HISTÓRIA DE DURKHEIM (anti-tabula rasa)
O futuro não pode ser imaginado a partir do nada: só podemos construí-lo com os materiais que o passado nos legou. Um ideal construído na direção oposta do estado das coisas existentes não é realizável, já que não possui raízes na realidade. Aliás, é claro que o passado tinha suas razões de ser do jeito que foi: ele não poderia ter durado se não tivesse satisfeito necessidades legítimas que não poderiam desaparecer da noite para o dia. Portanto, não se pode ser tão radical e fazer tábula rasa, a não ser que ignoremos necessidades vitais. (Durkheim 2013:94)
PSICOBACON
[A] consciência tem as suas próprias leis, as quais é preciso conhecer antes de modificar […]. […] Saberemos orientar melhor a sensibilidade moral dos alunos neste ou naquele sentido quando tivermos noções mais completas e precisas sobre o conjunto dos fenômenos que chamamos de tendências, hábitos, desejos, emoções, etc., sobre as diversas condições que os regem e sobre a forma sob a qual eles se manifestam na criança. (Durkheim 2013:95)
PSICOLOGIA COLETIVA como a ponta INTERACIONISTA de DURKHEIM
De fato, uma turma é uma pequena sociedade. Por isto, não se deve conduzi-la como se ela fosse apenas uma simples aglomeração de sujeitos independentes uns dos outros. Crianças reunidas em uma turma pensam, sentem e agem de modo diferente de quando estão isoladas. Em uma turma, produzem-se fenômenos de contágio, desmotivação coletiva, agitação mútua e efervescência saudável que é preciso saber discernir no intuito de prevenir ou combater uns e utilizar os outros. Sem dúvida, esta ciência ainda é uma criança. (Durkheim 2013:96)
:::::::::: PEDAGOGIA E SOCIOLOGIA :.
PEDAGOGIA e SOCIOLOGIA
[O] postulado de toda investigação pedagógica é a tese de que a educação é uma coisa eminentemente social, tanto por suas origens quanto por suas funções e que, logo, a Pedagogia depende mais da Sociologia do que de qualquer outra ciência. (Durkheim 2013:98)
PEDAGOGIA INDIVIDUALISTA/UNIVERSALISTA (Kant, Mill, Herbart, Spencer)
Admitia-se que havia uma natureza humana, cujas formas e propriedades eram determináveis uma vez por todas, e o problema pedagógico consistia em buscar saber de que maneira a ação educadora deveria se exercer na natureza humana assim definida. (Durkheim 2013:100)
EDUCAÇÕES SOCIAIS (diversidade pedagógica, especialização funcional)
[N]ão há uma educação universalmente válida para o gênero humano inteiro – em todas as sociedades, por assim dizer, sistemas pedagógicos diferentes coexistem e funcionam em paralelo. […] Ainda hoje, não vemos a educação variar com as classes sociais ou mesmo com os habitats? A da cidade não é a igual à do campo, a do burguês não é igual à do operário. […] Mesmo que a carreira de cada criança não fosse, em grande parte, predeterminada por uma cega hereditariedade, a diversidade moral das profissões não deixaria de exigir uma grande diversidade pedagógica. De fato, cada profissão constitui um meio sui generis que demanda aptidões e conhecimentos específicos, um meio no qual predominam certas ideias, usos e maneiras de ver as coisas; e já que a criança deve estar preparada com vistas à função que será levada a cumprir, a educação, a partir de determinada idade, não pode mais continuar a mesma para todos os sujeitos aos quais ela se aplicar. É por isso que, em todos os países civilizados, ela tende cada vez mais a se diversificar e se especializar, e esta especialização, a se tornar cada vez mais precoce. (Durkheim 2013:101-2)
SOLIDARIEDADE MECÂNICA (momento lógico)
Para encontrar uma educação absolutamente homogênea e igualitária, é preciso voltar no tempo até as sociedades pré-históricas, no seio das quais não existia nenhuma diferenciação; e ainda assim estes tipos de sociedades representam apenas um momento lógico na história da humanidade. (Durkheim 2013:102)
A SOCIEDADE COMO AGENTE
É a sociedade que, para se manter, exige que o trabalho se divida entre os seus membros e de tal maneira em vez de outra. É por isto que ela prepara com as suas próprias mãos, através da educação, os trabalhadores especializados dos quais precisa. Portanto, foi para e por ela que a educação se diversificou assim. (Durkheim 2013:102)
O homem que a educação deve realizar em nós não é o homem tal como a natureza criou, mas sim tal como a sociedade quer que ele seja; e ela quer que ele seja da forma exigida pela sua economia interior. (Durkheim 2013:107)
[T]anto no presente quanto no passado, o nosso ideal pedagógico é, nos mínimos detalhes, fruto da sociedade. é ela que traça o retrato do homem que devemos ser, retrato no qual se refletem todas as particularidades da sua organização. (Durkheim 2013:108)
[A educação] é antes de tudo o meio pelo qual a sociedade renova eternamente as condições da sua própria existência. (Durkheim 2013:108)
[A] educação satisfaz acima de tudo necessidades externas, ou seja, sociais. (Durkheim 2013:112)
Assim, o indivíduo só busca as qualidades que à primeira vista parecem tão espontaneamente desejávies quando a sociedade o incita nesta direção. E ele as busca da maneira que ela lhe prescreve. (Durkheim 2013:113)
. (Durkheim 2013:)
ESPECIALIZAÇÃO e ENTORPECIMENTO
[N]ão podemos desenvolver com a intensidade necessária as faculdades privilegiadas pela nossa função sem deixar as outras se entorpecerem com a inatividade e sem abdicar, por conseguinte, de toda uma parte da nossa natureza. (Durkheim 2013:103)
PENSAMENTO x AÇÃO
[O] pensamento só pode se desenvolver desligando-se do movimento, recolhendo-se em si mesmo, desviando o sujeito da ação. (Durkheim 2013:103)
BASE COMUM (para além/aquém da especialização)
[C]erto número de ideias, sentimentos e práticas que a educação deve inculcar em todas as crianças sem distinção, seja qual for a categoria social à qual elas pertencem. É inclusive esta educação comum que é considerada em geral como a verdadeira educação. Somente ela parece plenamente merecer ser designada desta forma. A ela é concedida uma espécie de predominância com relação às outras. (Durkheim 2013:104)
O HUMANO NÃO É DADO!
[Ao longo da história, a “natureza humana” e as “necessidades humanas”] variaram porque as condições sociais das quais elas dependem não permaneceram inalteradas. (Durkheim 2013:105)
ROMA=>FRANÇA=>IDADE MÉDIA=>RENASCIMENTO=>HOJE
(Durkheim 2013:104-5)
HUMANIDADE ABSTRATA (relação com Marx: trabalho humano abstrato)
[C]ada um dos grandes povos europeus cobre um imenso habitat e engloba as raças mas diversas. Além disso, o trabalho é extremamente dividido – os indivíduos que o compõem são tão diferentes uns dos outros que não há mais quase nada em comum entre eles, salvo a sua qualidade humana em geral. Portanto, eles só podem manter a homogeneidade indispensável a qualquerconsenso social se forem tão semelhantes quanto possível no único aspecto em que todos se parecem, ou seja, enquanto todos forem seres humanos.(Durkheim 2013:106)
OS DOIS SERES (individual X social)
Constituir este ser [social] em cada um de nós é o objetivo da educação. (Durkheim 2013:109)
ONTOLOGIA DO SER INDIVIDUAL (egoísta, hedonista, associal)
(Durkheim 2013:109)
PEDAGOGIA DURKHEIMIANA (tábula “quase” rasa…)
[C]om exceção de tendências vagas e incertas que podem ser atribuídas à hereditariedade, ao entrar na vida, a criança traz apenas a sua natureza de indivíduo. Portanto, a cada nova geração, a sociedade se encontra em presença de uma tábula quase rasa sobre a qual ela deve construir novamente. é preciso que, pelos meios mais rápidos, ela substitua o ser egoísta e associal que acaba de nascer por um outro capaz de levar uma vida moral e social. Esta é a obra da educação, cuja grandeza podemos reconhecer. […] Ela cria um novo ser no homem, […] feito de tudo o que há de melhor em nós e de tudo o que dá valor e dignidade à vida. (Durkheim 2013:110)
ONTOLOGIA DO ANIMAL (instintos inatos, tecidos)
(Durkheim 2013:110)
EDUCAÇÃO como INICIAÇÃO
[S]e eliminarmos as formas míticas que envolvem esta crença [num renascimento ritual], não veremos, sob o símbolo desta ideia e de forma obscura, que a educação cria um ser novo no homem? Trata-se do ser social. (Durkheim 2013:111)
TRADIÇÃO x REFLEXÃO
(Durkheim 2013:113)
ASCETISMO x EDUCAÇÃO FÍSICA
(Durkheim 2013:113)
ESPARTA=>ATENAS=>HOJE
(Durkheim 2013:113)
PSICOLOGIA (os “meios” da educação: crianças, consciência)
(Durkheim 2013:113-5)
Saberemos orientar melhor a sensibilidade moral dos alunos neste ou naquele sentido quando tivermos noções mais completas e precisas sobre o conjunto dos fenômenos que chamamos de tendências, hábitos, desejos, emoções, etc., sobre as diversas condições que os regem e sobre a forma sob a qual eles se manifestam na criança. […] Ora, é à Psicologia e, em especial, à Psicologia Infantil que cabe resolver estas questões. Portanto, embora ela seja incompetente para fixar o objetivo, ou melhor, os objetivos da educação, ela certamente tem um papel útil a desempenhar na constituição dos métodos. E mais: como nenhum método pode ser aplicado da mesma maneira nas diferentes crianças, é mais uma vez a Psicologia que deve nos ajudar a nos situar em meio à diversidade das inteligências e caracteres. Infelizmente, sabemos que ainda estamos longe do momento em que ela realmente estará apta a satisfazer este desideratum. (Durkheim 2013:114)
SÓ A SOCIOLOGIA…
(Durkheim 2013:114, 116)
OS FINS e os MEIOS SOCIAIS da EDUCAÇÃO
[J]á que os fins da educação são sociais, os meios pelos quais estes fins podem ser alcançados devem necessariamente ter o mesmo caráter. […] É que, de fato, como a vida escolar não passa do germe da vida social, assim como esta última não passa da continuação e maturidade daquela, os principais processos pelos quais uma funciona se encontram obviamente na outra. […] Quanto melhor conhecermos a sociedade, melhor perceberemos tudo o que se passa no microcosmo social que a escola é. (Durkheim 2013:116-7)
Sejam os fins que ela [a educação] busca ou os meios que ela emprega, são sempre necessidades sociais que ela satisfaz e ideias e sentimentos coletivos que ela expressa. (Durkheim 2013:118)
Logo, é a sociedade que é preciso estudar e são as suas necessidades que é preciso conhecer, já que são estas últimas que é preciso satisfazer. (Durkheim 2013:)
SOCIOLOGIA x PSICOLOGIA
(Durkheim 2013:117-9)
O QUE TEMOS DE MELHOR…
Sejam os fins que ela [a educação] busca ou os meios que ela emprega, são sempre necessidades sociais que ela satisfaz e ideias e sentimentos coletivos que ela expressa. Sem dúvida, o próprio indivíduo sai ganhando com este mecanismo. Nós já não admitimos claramente que aquilo que temos de melhor é devido à educação? E aquilo que temos de melhor é de origem social. (Durkheim 2013:118)
SOCIOLOGIA como PRAXEOLOGIA
[A Sociologia] pode, mais e melhor, fornecer-nos aquilo de que temos mais urgentemente necessidade, quero dizer um corpo de ideias diretivas que sejam a alma da nossa prática, sustentando-a, dando um sentido à nossa ação e nos ligando intimamente à mesma, o que é uma condição obrigatória para que esta ação seja fecunda. (Durkheim 2013:120)